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Contos-->Depoimento Literário Lição de Vida -- 15/03/2000 - 17:08 (Vânia Moreira Diniz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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Depoimento Literário –Lição de Vida


Regina era extremamente bonita quando a conheci.
Criança ainda, muita criança, fiquei fascinada por sua figura elegante, o rosto expressivo e os enormes olhos verdes que sempre foram o traço característico de sua envolvente pessoa.
Além disso, profundamente humana e sensível, tinha comigo um carinho especial e eu estava sempre em contacto com ela, pois era secretária de meu pai.
Gostava de me presentear com pequenos e encantadores mimos, mas era sua presença muito cativante e extremamente gentil que me conquistavam.
As histórias que me contava, o companheirismo em passeios, até datilografando (nesse tempo não existia o PC) meus trabalhos de colégio faziam dela uma grande aliada.
Tinha um filho, Luiz, bem mais velho que eu e que possuía como a mãe olhos verdes e grandes.
Meus pais tinham grande carinho por ela e era considerada na família amiga de verdade.
Muitas vezes ia com meu pai ao escritório e batíamos longos e gostosos papos.
Sempre, a via acompanhada de um profissional muito amigo de meu pai. E sempre pensei que ele fosse seu marido.
Gostava dele também. Era alto, forte e de extrema boa aparência e isso fazia de ambos um casal perfeito.
Mas sempre notara que eles evitavam qualquer festa e dificilmente estavam presentes à noite em qualquer lugar. E quando ela ia o Dr. Carlos não a acompanhava.
Muitas vezes os via na rua, fazendo compras, mas especialmente Regina era muito discreta.
Um dia ouvi comentários que minha amiga era viúva e fiquei espantada. Além de ela ser extraordinariamente jovem achava que era casada com o homem que sempre a acompanhava.
Embora garota muitos fatos me faziam crer que eles eram um casal exótico pelo modo de se conduzirem, ficando sempre na retaguarda, quer nas conversas, quer no posicionamento estranho frente às outras pessoas. Não me detinha para pensar, mesmo porque era criada num ambiente que não se questionava a vida das pessoas.
Com o passar do tempo verifiquei que a jovem secretária estava estranha e profundamente deprimida. Perguntei-lhe espontaneamente se algo havia acontecido deixando-a tão triste
-Na verdade tudo está bem, não se preocupe. Não pense nisso.
Olhei-a, desconfiada, achando que não falara a verdade, porém não insisti.
Continuei a viver minha vida normalmente entre passeios, obrigações escolares, amigas e brincadeiras.
Entretanto era tão evidente a amargura de Regina que comecei a observar mais detidamente, sem que ninguém percebesse.
Meu pai ocupava um cargo importante e seus colegas sempre se reuniam cada semana, na casa de um com as respectivas esposas. Eu não participava dessa atividade e nem mesmo sabia o nome de todos. Mas comecei a notar que Regina que sempre estivera presente pelo menos na minha casa não comparecia mais a nada. Sentia pela pessoa maravilhosa que ela era. Muitos anos depois continuaria a gostar dessa mulher extraordinária, cuja vida difícil era entrecortada de problemas.
Conclusão

Regina tinha ficado viúva muito jovem. Aos 24 anos com um filho para criar e sem condições de sobreviver fizera uma prova ou concurso, não sei precisar e se classificara.
Durante anos atendera a meu pai que era advogado da empresa. E lá conhecera um outro advogado, Dr. Carlos que era casado, porém não vivia com a mulher doente e continuamente internada em hospital para tratamento. Dava toda a assistência a ela, porém tacitamente não viviam juntos há muitos anos, antes mesmo dela adoecer. Moravam na mesma casa por causa dos filhos. (Há alguns anos atrás havia essa espécie de acordo doloroso).
Regina logo se tornou nossa amiga e meus pais a tratavam com enorme carinho.
Eles sabiam da vida em comum dela com o Dr. Carlos, porém isso não era uma coisa que eles tivessem que se envolver. Todos a respeitavam na empresa até que entrou alguém que resolveu como chamaríamos hoje, praticar o assédio sexual e ela foi enérgica quando pediu que ele se afastasse da sua vida.
Revoltado começou a fazer uma campanha contra a jovem até que praticamente todos ficaram a seu favor. Sem meu pai saber combinaram que jamais a convidariam para nenhum evento e alardearam isso de modo bem claro.
Mandavam para sua casa bilhetes anônimos e maldosamente telefonavam, falando com seu filho.
Até hoje me pergunto como a cabeça humana é capaz de arquitetar maldades tão frias. E lamento que haja realmente pessoas desse tipo.
Quando meus pais sentiram algo estranho chamaram Regina e pediram que ela relatasse o que estava acontecendo. Embora envergonhada a moça contou-lhes tudo. E eles ficaram realmente chocados.
Resolveram então bater de frente, porém com estilo.
Planejaram um jantar para Regina em que ela era homenageada e convidaram todas as pessoas da empresa e família. O que não podiam deixar é que ela continuasse sendo vítima daquela espécie de plano de alguém que fora simplesmente desdenhado em seus intuitos. Que não aprendera a perder e não tinha elegância para isso.
Minha família deixou claro que estariam sendo desconsiderados se alguém faltasse. Ninguém faltou.
Na verdade tempos depois compreendendo e sabendo do que acontecera admirei ainda mais essa mulher cuja lealdade fora provada.
Foi uma lição de vida e meus pais fizeram questão de contar-me com detalhes enaltecendo o lado generoso do ser humano e ensinando que ódio, rancor e maldade nada constroem.
Ficou ao lado do Dr. Carlos até o fim, cuidando dele quando foi vítima do mal de parckson.
Muitos anos depois ela ajudou numa situação difícil a mulher dessa pessoa que transformou durante algum tempo sua vida, sem nada exigir ou cobrar.
É a minha homenagem a Regina que muito amo (ainda está entre nós) e encheu minha infância e adolescência de muita ternura e que hoje já com seus 80 anos parece-me sempre altiva e maravilhosa.
Vânia Moreira Diniz


OBS: Os nomes dos personagens foram alterados para preservar suas identidades.

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